Mercosul à deriva?
Autor | Karina Lilia Pasquariello Mariano/Gustavo Henrique Morais Maximiano |
Páginas | 77-104 |
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Capítulo 3
Mercosul à deriva?
Karina Lilia Pasquariello Mariano
Gustavo Henrique Morais Maximiano
Como citar este capítulo? / ¿Cómo citar este capítulo?
Mariano, K. L. y Maximiano, G. H. (). Mercosul à deriva? En E. Vieira Po-
sada y F. Peña (Eds.), La - y los cambios en la integración latinoamericana
y europea (vol. , pp. - ). Ediciones Universidad Cooperativa de Colombia.
https://doi.org/./
Introdução1
A
pandemia da covid- tem se mostrado um grande desao para
os processos de cooperação regional em todos os continentes,
suscitando reações individualistas que muitas vezes ferem os princípios re-
gionais ou até mesmo incitando conitos. Diante desse cenário, o objetivo
deste artigo é discutir quais os efeitos dessa crise sanitária no Mercosul, em
particular, e sua inuência no impulso integracionista na América do Sul,
de forma mais ampla, considerando que esse processo apresenta uma lógica
intergovernamental que, por sua vez, pressupõe a existência de uma vontade
política governamental para a manutenção da integração.
1 Este capítulo é o resultado do projeto de pesquisa INV 3066 “La COVID-19 y los
cambios en el orden mundial de la pospandemia”.
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LA COV I D - 19 Y L OS C AMB IOS EN LA INT EGR ACIÓ N LAT INO AME RICA NA Y E URO PEA
Desde a segunda metade da década de , havia um consenso de que os
desaos apresentados pelo novo contexto internacional globalizado seriam
enfrentados de melhor forma se os países da América do Sul abandonassem
a lógica da promoção do desenvolvimento autônomo via substituição de
importações, adotando uma nova estratégia por meio da abertura de mer-
cados e se adaptando à competitividade internacional. Nesse sentido, os
processos de integração serviram tanto para estimular essa mudança como
para ajudar no processo de ajuste à nova realidade.
Ao mesmo tempo, o contexto internacional, marcado pela defesa do mo-
delo neoliberal de Estado e da globalização, também foi um importante
componente desses arranjos regionais, porque houve uma preocupação mui-
to forte com a construção de blocos com baixa burocratização e dentro de
uma lógica intergovernamental, justicada pela percepção de que se deveria
evitar uma estrutura supranacional como a europeia, pois esta teria tornado
o processo decisório muito mais lento e custoso.
Discutir essa opção pela lógica intergovernamental no regionalismo
sul-americano é importante para compreender a atual situação da região, por-
que esse tipo de arranjo institucional pressupõe a existência de uma vontade
política compartilhada e/ou de uma liderança para garantir o dinamismo do
processo. Portanto, depende da manutenção do interesse governamental pela
integração, inclusive quando ocorrem mudanças políticas decorrentes de elei-
ções. São três os fatores que garantiriam essa continuidade de interesse:
Resultados positivos que estimulassem não só mais apoio na opi-
nião pública interna como também expectativas positivas com
relação ao futuro do bloco, o que garantiria o compromisso em
continuar participando;
Convergência política entre os participantes, facilitando tanto a
cooperação entre eles como a construção de estratégias conjuntas
com vistas a atingir seus objetivos;
Existência de uma liderança cujo papel central fosse estimu-
lar a coesão entre os membros e a percepção positiva quanto à
participação, responsabilizando-se por indicar um projeto de
inserção mundial mais coletivo. Em certa medida, essa ideia
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