Spatial Dynamics for Spreading Sars-COV-2 in Brazil/Dinamicas espaciais de espalhamento do SARS-COV-2 no Brasil/Dinamica espacial para la propagacion del SARS-COV-2 en Brasil. - Vol. 44 Núm. 3, Septiembre 2021 - Revista Interamericana de Bibliotecologia - Libros y Revistas - VLEX 876831703

Spatial Dynamics for Spreading Sars-COV-2 in Brazil/Dinamicas espaciais de espalhamento do SARS-COV-2 no Brasil/Dinamica espacial para la propagacion del SARS-COV-2 en Brasil.

AutorSouza Netto, Manoel Camilo
  1. Introducao

    Desde o surto da sindrome respiratoria aguda grave (SARS) ha quase duas decadas, um grande numero de coronavirus relacionados a SARS (SARS-CoVs) potencialmente infectantes aos humanos foi descoberto. O SARS-CoV-2, causador de uma epidemia de sindrome respiratoria aguda, foi estudado a partir de sequencias de genoma que foram obtidas de cinco pacientes em um estagio inicial da doenca, as quais se caracterizaram por serem 96% identicas no nivel do genoma inteiro a um coronavirus detectado em morcegos (Peng et al., 2020).

    Segundo Quammen (2020), o surto em Wuhan (China) nao e um infortunio, mas faz parte de uma sequencia de contingencias como parte de um padrao de escolhas humanas, dentre elas apropriar-se de recursos naturais e gerar disturbios ecologicos que aumentam as trocas virais pelo aumento da frequencia de interacoes entre humanos e outras especies. Ainda, segundo Quammen (2020), destruimos os ecossistemas e liberamos os virus de seus hospedeiros naturais e, quando isso acontece, eles precisam de um novo hospedeiro. Muitas vezes, somos nos humanos.

    A obsessiva necessidade da humanidade de estar onipresente pode faze-la conviver com esse transbordamento viral entre especies de forma recorrente. Estando o homem contaminado, estara o virus apto a usufruir das varias redes de transporte dos seus hospedeiros viajantes, inclusive das rotas que eficientemente interligam varios paises. A criatura nanometrica podera chegar a destinos longinquos em questao de horas. Se obtiver sucesso em sua empreitada, esse virus pode gerar uma pandemia como a ora em curso, durante a qual tera mais chances de sofrer mutacoes e tornar-se ate mais letal ou mais transmissivel.

    O peregrino SARS-CoV-2 tem executado esse script darwiniano eficientemente, visto que suas variantes tem maior avidez pelo receptor celular humano e podem levar a uma menor eficacia da vacina dependendo do tipo de imunizante. Algumas linhagens tambem escapam ao tratamento com anticorpos monoclonais (Brandao, 2021).

    O SARS-CoV-2 nao foi o primeiro e nao sera o ultimo parasita intracelular a expandir seus espacos territoriais de contaminacao se valendo do deslocamento humano. Virus diversos executaram--e continuarao a cumprir--o roteiro: usufruir da tecnologia de transporte que o homem construiu ao longo da sua historia. E possivel, inclusive, que essa realidade se torne rotineira.

    Considerando a possibilidade de a problematica exposta configurar-se recorrente, o deslocamento do homem no espaco territorial e uma questao de estudo relevante, pois e o portador do virus que eventualmente ampliara a area territorial infectada, fazendo surgir novos casos inaugurais em locais outrora livres da doenca. Em particular, um objeto de estudo poderia ser a existencia de uma correlacao formalmente descritivel entre o surgimento do primeiro caso de SARS-CoV-2 em unidades territoriais (paises, estados, cidades) e as quantidades de viajantes que a esses locais se destinaram.

    No trabalho ora proposto, os estados (frequentemente designados como Unidades Federativas do Brasil, ou simplesmente pelo acronimo UFs) foram convencionados como a unidade territorial padrao de destino dos viajantes. A hipotese aventada pressupoe que quanto mais passageiros viajarem a uma UF ainda livre do virus, maiores as chances de que um deles esteja infectado pelo SARS-CoV-2. A consequencia seria o aumento da probabilidade de antecipar a ocorrencia da primeira infeccao no destino. Assim, se a quantidade de passageiros e previamente conhecida, entao talvez seja possivel a predicao da ordem de contaminacao das UFs antes mesmo que uma futura--e indesejavel--pandemia ocorra. A pesquisa tambem almejou analisar se o local de onde o passageiro advem pode influenciar a data do primeiro caso de SARS-CoV-2 no destino, pois locais de origem que recebem mais passageiros tambem teriam maiores chances de exportarem infeccoes aos destinos finais de outros viajantes.

  2. Fundamentacao teorica

    2.1 Breve caracterizacao do transporte interestadual de passageiros no Brasil

    Paiva e Muller (2014) afirmam que, no Brasil, os principais meios de transporte publicos utilizados em viagens sao o aviao e o onibus, ja que os transportes ferroviario e hidroviario, residuais, pouco atendem as rotas do pais.

    Segundo Amora e Matais (2011), o numero de passageiros de aviao superou, em 2010, o numero de viajantes de onibus interestaduais pela primeira vez no Brasil. A informacao da reportagem e coerente com o exposto pela pagina Dados e Estatisticas da Agencia Nacional de Transporte Terrestres (ANAC, 2019), que divulgou o grafico de evolucao das quantidades percentuais e anuais de passageiros que utilizam os modais aereo e rodoviario em viagens interestaduais, conforme a Figura 1.

    A partir do fato de que esses sao os principais meios de transporte no Brasil, e possivel afirmar que o SARS-CoV-2 se serviu com avidez impar das rotas dos viajantes infectados: em um pais de dimensoes continentais, trafegando em seus hospedeiros pelas principais rotas interestaduais, o SARS-CoV-2 registrou casos em todas as vinte e sete UFs em apenas vinte e seis dias (1) apos sua chegada ao pais, conforme demonstra o a Figura 2.

    Assim, para entender a ordem de ocorrencia dos primeiros casos em cada UF do Brasil, uma alternativa seria estudar os deslocamentos daqueles que carregam o virus pais afora: os viajantes nas modalidades aereos e rodoviarios (avioes e onibus interestaduais, em ambos os casos em rotas comerciais regulares).

    Existem outras modalidades de deslocamento de viajantes nao utilizadas na pesquisa, como as dos condutores e passageiros de transportes de carga rodoviaria (caminhoes), os que viajam por meios proprios (avioes, carros e motos particulares), os passageiros e condutores da malha hidroviaria e ferroviaria, e outros meios que certamente o estudo deveria considerar. Entretanto, diferentemente dos transportes aereos e por onibus interestaduais, nao ha dados abertos governamentais dessas outras modalidades. Esse vacuo nao inviabiliza a pesquisa, visto que estao disponiveis, em sites de dados abertos do governo federal, os fluxos de passageiros dos dois principais tipos de transporte interestaduais (2) alhures descritos. Alem disso, o trabalho ora desenvolvido nao busca, como insumo de pesquisa, um retrato exato--e ate mesmo impossivel--de todos os fluxos de passageiros por inumeras vias.

    O que a pesquisa procurou foi uma aproximacao razoavel construida com dados disponiveis e que retratam os casos mais comuns dos fluxos interestaduais de pessoas. Assim, a ausencia dos fluxos de viajantes excepcionais foi tratada como ruido e os dados de passageiros usados no trabalho foram aqueles permitidos pela realidade concreta.

    Considerando serem estes passageiros candidatos a hospedeiros virais, as rotas por eles viajadas podem ser, em um percentual razoavel, o principal meio pelo qual o virus ocasionou os primeiros casos de SARS-CoV-2 em algumas UFs do Brasil.

    O virus acompanhou seu hospedeiro e percorreu, portanto, uma rede formada por Estados e as suas interligacoes que pode ser representada por um grafo de uma rede social no qual essas UFs sao os vertices. Uma unica...

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