User Information Studies in the Perspective of Informational Practices/Estudos de usuarios da informacao sob a perspectiva das praticas informacionais/Estudios de usuarios a partir de la perspectiva de las practices informacionales. - Vol. 44 Núm. 3, Septiembre 2021 - Revista Interamericana de Bibliotecologia - Libros y Revistas - VLEX 876831700

User Information Studies in the Perspective of Informational Practices/Estudos de usuarios da informacao sob a perspectiva das praticas informacionais/Estudios de usuarios a partir de la perspectiva de las practices informacionales.

AutorGoulart, Andrea Heloiza
  1. Introducao

    A Ciencia da Informacao, por ser uma ciencia social e humana, com um objeto de estudo complexo, apresenta diferentes interpretacoes (Rendon-Rojas, 2012). O mesmo ocorre com os estudos de usuarios, que tem evoluido ao longo do tempo. Para Matta (2010) "tao importante quanto estudar o objeto "informacao" e o estudo daqueles que a utilizam" (p. 130). Capurro (2003), apresenta tres paradigmas para a Ciencia da Informacao que podem ser relacionados as diferentes abordagens que marcam os estudos de usuarios: a tradicional, a alternativa e a social (Araujo, 2012).

    O presente artigo expoe a relacao entre os paradigmas apresentados por Capurro (2003) e os diferentes enfoques dos estudos de usuarios, com especial atencao a abordagem social e a perspectiva das praticas informacionais. Com isso, sao evidenciados tres estudos de busca de informacao na vida cotidiana, como forma de ilustrar as possibilidades oferecidas as pesquisas que se desenvolvem sob a otica das praticas informacionais.

  2. Estudos de usuarios da informacao

    Estudos de usuarios visam descobrir quais informacoes sao buscadas pelos sujeitos e se as necessidades informacionais dos usuarios de uma biblioteca ou de um centro de informacao tem sido adequadamente satisfeitas. Assim, busca-se descobrir porque, como e para qual finalidade os individuos usam a informacao (Figueiredo, 1994). De acordo com Cunha, Amaral e Dantas (2015), tais investigacoes envolvem todos os tipos de necessidades, demandas, expectativas, atitudes e demais praticas a respeito do uso da informacao pelo individuo.

    Neste sentido, Sanz-Casado (1993) apresenta cinco objetivos dos estudos de usuarios: 1) conhecer habitos e necessidades dos usuarios, a fim de tornar os centros de informacao mais adequados as suas carencias; 2) tornar os centros de informacao capazes de atender a um maior numero de demandas; 3) oferecer treinamento aos usuarios, de modo a conhecer seus habitos e necessidades; 4) identificar, nos sistemas de informacao, os pontos fracos que necessitam de reforma; e 5) conhecer os grupos de pesquisa, com o proposito de fornecer a informacao necessaria e de forma eficiente.

    Araujo (2009; 2016) esclarece que as primeiras pesquisas neste campo foram os estudos de comunidade que, na decada de 1930, investigavam, sob uma perspectiva funcionalista, as caracteristicas de certo grupamento humano, com o objetivo de oferecer aos integrantes informacoes adequadas para a sua educacao e a sua socializacao. Em seguida, no final da decada de 1940, foram desenvolvidos os estudos de uso, cujo objetivo era de aferir o grau de satisfacao dos usuarios e tambem de oferecer feedback aos sistemas. Nestes casos, os usuarios eram estudados sob uma perspectiva sistemica.

    Em 1966, a publicacao, no Annual Review of Information Science and Technology, de um capitulo sobre necessidades e usos de informacao auxiliou na estruturacao do referido campo de pesquisa e fez com que o tema viesse a integrar os programas de graduacao e pos-graduacao em Arquivologia, Biblioteconomia e Ciencia da Informacao (Araujo, 2016).

    Outro marco relevante para os estudos de usuarios ocorreu em 1996, por ocasiao do primeiro Information Seeking in Context (ISIC), evento bienal que, atualmente, e denominado The Information Behaviour Conference. Neste e em outros coloquios chegou-se ao entendimento de que e possivel verificar a ocorrencia historica de tres grandes perspectivas para estudos de usuarios da informacao: 1) os estudos de uso, surgidos na decada de 1930; 2) os estudos de comportamento informacional, cuja origem remonta ao final da decada de 1970 e 3) os estudos das praticas informacionais, iniciados em meados da decada de 1990 (Araujo, 2016).

    Assim, e possivel estabelecer relacao entre os paradigmas da Ciencia da Informacao, elaborados por Capurro (2003), e as distintas abordagens dos estudos de usuarios (Araujo, 2010a; Araujo, 2010b; Gandra & Duarte, 2012): a abordagem tradicional, que envolve os estudos de uso, corresponde ao paradigma fisico; a abordagem alternativa, representada pelos estudos de comportamento informacional, relaciona-se ao paradigma cognitivo e a abordagem social, caracterizada pelos estudos das praticas informacionais, esta ligada ao paradigma social.

  3. Os paradigmas da ciencia da informacao e as abordagens dos estudos de usuarios

    Capurro (2003) apresenta tres paradigmas dominantes na Ciencia da Informacao: 1) o fisico, 2) o cognitivo e 3) o social. Para o autor, o inicio da disciplina, em meados do seculo XX, e marcado pelo paradigma fisico, o qual, posteriormente, seria contestado pela perspectiva cognitiva idealista e individualista, sendo esta sucedida pelo paradigma pragmatico e social.

    No paradigma fisico, a mensagem ou informacao que o emissor transmite ao receptor equivale a um objeto fisico, o que aproxima este modelo da teoria matematica da comunicacao de Shannon e Weaver (1974) e da cibernetica de Norbert Wiener (1961). Na Ciencia da Informacao, o paradigma fisico impulsionou experimentos de medicao de resultados de sistemas computadorizados de recuperacao de informacao, como os estudos de Cranfield, de 1957, e colocou o usuario como receptor passivo no processo de recuperacao da informacao. Assim, esta teoria desconsidera o papel ativo do usuario no processo informativo e comunicativo (Capurro, 2003).

    No que diz respeito aos estudos de usuarios, o paradigma fisico liga-se a abordagem tradicional, na qual a informacao e entendida como objeto dotado de propriedades objetivas, nao apresentando relacao com o usuario. O campo tem carater empirista e emprega, principalmente, metodos quantitativos, a fim de averiguar padroes e regularidades no comportamento dos usuarios. (Araujo, 2010a).

    Em oposicao a perspectiva fisica, surge o paradigma cognitivo, influenciado pela ontologia de Karl Popper (1973), estudioso que postulou a existencia de tres mundos: 1) o fisico, formado pelos objetos; 2) o da consciencia, caracterizado pelo pensamento e 3) o do conhecimento objetivo, composto pelos elementos do mundo dois (consciencia humana) transformados em elementos do mundo um (objetos fisicos), mas que, devido a sua natureza particular, compreenderiam um mundo a parte (Capurro, 2003; Araujo, 2012). Na Ciencia da Informacao, o mundo tres de Popper, do conhecimento objetivo, foi associado ao conceito de informacao por autores como Belkin e Brookes, que principiaram uma linha de estudos cognitivos da informacao (Araujo, 2012).

    Segundo Capurro (2003), em tais estudos, a busca de informacao e desencadeada no momento em que o sujeito percebe uma lacuna de conhecimento, ou estado cognitivo anomalo, em que o conhecimento ao seu alcance nao basta para solucionar determinado problema. O autor, contudo, aponta limites do paradigma cognitivo, por esta abordagem enxergar a informacao como algo distinto do sujeito e entender o usuario como sujeito cognoscente, nao visualizando o individuo como ser social.

    Em relacao aos estudos de usuarios, pode-se afirmar que o paradigma cognitivo se relaciona com a abordagem alternativa, que intenta investigar a forma como o sujeito...

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