Relacao entre os artefatos de contabilidade gerencial e o ciclo de vida organizacional de empresas do setor de consumo ciclico/RELATIONSHIP BETWEEN MANAGEMENT ACCOUNTING ARTIFACTS AND THE ORGANIZATIONAL LIFE CYCLE OF COMPANIES WITHIN THE CONSUMER CYCLICAL SECTOR/RELACION ENTRE LOS ARTEFACTOS DE CONTABILIDAD GERENCIAL Y EL CICLO DE VIDA ORGANIZACIONAL DE EMPRESAS DEL SECTOR DE CONSUMO CICLICO/LA RELATION ENTRE LES ARTEFACTS DE COMPTABILITE DE GESTION ET LE CYCLE DE VIE ORGANISATIONNEL DES ENTREPRISES DU SECTEUR DE LA CONSOMMATION CYCLIQUE/. - Vol. 30 Núm. 76, Abril 2020 - Revista Innovar - Libros y Revistas - VLEX 869576279

Relacao entre os artefatos de contabilidade gerencial e o ciclo de vida organizacional de empresas do setor de consumo ciclico/RELATIONSHIP BETWEEN MANAGEMENT ACCOUNTING ARTIFACTS AND THE ORGANIZATIONAL LIFE CYCLE OF COMPANIES WITHIN THE CONSUMER CYCLICAL SECTOR/RELACION ENTRE LOS ARTEFACTOS DE CONTABILIDAD GERENCIAL Y EL CICLO DE VIDA ORGANIZACIONAL DE EMPRESAS DEL SECTOR DE CONSUMO CICLICO/LA RELATION ENTRE LES ARTEFACTS DE COMPTABILITE DE GESTION ET LE CYCLE DE VIE ORGANISATIONNEL DES ENTREPRISES DU SECTEUR DE LA CONSOMMATION CYCLIQUE/.

AutorDa Silva, Mareia Zanievicz
CargoContabilidad y Finanzas

Introdução

Desde a publicação da obra Relevance Lost, de H. Thomas Johnson e Robert S. Kaplan, no final dos anos 1980, a qual deflagra a decadência e a perda de relevância da contabilidade gerencial, uma ampla discussão sobre a distância existente entre o conhecimento e as práticas gerenciais vem ganhando corpo (Grande e Beuren, 2011). Em resposta às críticas apresentadas pelos autores, pôde-se observar, nos anos subsequentes, o desenvolvimento e a disseminação de inúmeros artefatos de gestão, dentre os quais, o custeio baseado em atividades (ABC), a gestão baseada em atividades (ABM) e o balanced scorecard (BSC) (1) (Soutes, 2006).

Entretanto, a despeito do esforço acadêmico no sentido de recuperar a relevância perdida da contabilidade gerencial, por meio do desenvolvimento de técnicas mais sofisticadas, as evidências empíricas acumuladas de estudos como os de Sulaiman, Ahmad e Alwi (2004), Soutes e De Zen (2005) e Reis e Teixeira (2013 sugerem que a adoção de práticas consideradas modernas (por exemplo, ABC, ABM, target costing, BSC, entre outras) ainda seja incipiente nas organizações.

Esses achados atentam para a necessidade de novos estudos sobre as práticas de contabilidade gerencial adotadas pelas empresas, bem como do desenvolvimento de pesquisas que busquem compreender os processos subjacentes de mudança e persistência de tais práticas gerenciais (Grande e Beuren, 2011). Uma das razões que justificam novas pesquisas está na possibilidade de identificar prováveis modificações nos padrões de uso dos artefatos de gestão.

A teoria do ciclo de vida organizacional pode ser adotada para analisar o desenvolvimento da contabilidade gerencial nas empresas. Desse modo, estudiosos do assunto apontam que as mudanças organizacionais ocorrem em padrões caracterizados por estágios de desenvolvimento e que determinadas transições são esperadas na medida em que empresas jovens, pequenas e simples se tornam mais velhas, maiores e mais complexas (Souza, Necyk e Frezatti, 2009).

Assim, estudos que buscam relacionar mudanças na contabilidade gerencial, sob a perspectiva do ciclo de vida organizacional, têm evidenciado que a formalização do sistema de contabilidade gerencial sofre alterações para se adaptar às características organizacionais específicas de cada estágio do ciclo de vida (Moores e Yuen, 2001; Granlund e Taipaleenmáki, 2005; Beuren, Rengel e Rodrigues Junior, 2015). Além disso, constataram que a formalização do planejamento organizacional está correlacionada com os estágios do ciclo de vida em que a organização se encontra (Frezatti, Relvas, Nascimento, Junqueira e Bido, 2010) e que o uso de sistemas de controles de gestão mais interativos se intensifica conforme a empresa progride nos estágios do ciclo de vida (Lavarda e Pereira, 2012).

Ainda, podem-se destacar as evidências fornecidas pelos estudos de Correia, Gomes, Bruni (2011), Valeriano (2012), Assunção, de Luca, Vasconcelos e Cardoso (2014) e Paulo e Cintra (2018), nos quais diferentes estágios de ciclo de vida organizacional demandam diferentes artefatos de contabilidade gerencial para atender às necessidades da empresa de forma satisfatória. Assim, os achados das pesquisas apresentadas fornecem evidências de que a contabilidade gerencial se altera em função do estágio de ciclo de vida.

Percebe-se, entretanto, que as pesquisas, em sua grande maioria, são apoiadas em dados coletados por meio de questionários endereçados às empresas (Correia et al., 2011; Valeriano, 2012) e que há escassa evidência da relação entre os artefatos de contabilidade gerencial e o ciclo de vida organizacional com uma análise do disclosure das organizações (Assunção et al, 2014), base de análise que elimina o viés de resposta intrínseco ao questionário. Além disso, apenas o estudo de Assunção et al. (2014) enfocou as práticas de empresas de capital aberto, enquanto as demais pesquisas enfocaram pequenas e médias empresas (Correia et al, 2011; Valeriano, 2012) ou empresas de capital fechado (Frohlich, Rossetto e Silva, 2007; Necyk e Frezatti, 2010).

Nesse ensejo, emerge a pergunta que orienta a realização da presente pesquisa: qual a relação existente entre o estágio de ciclo de vida em que as empresas se encontram e os artefatos de contabilidade gerencial divulgados? Assim, a fim de responder a ela, o objetivo do presente estudo é relacionar o estágio de ciclo de vida em que as empresas se encontram com os artefatos de contabilidade gerencial divulgados pelas empresas do setor de consumo cíclico listadas na bolsa de valores brasileira (B3).

A pesquisa contribui para o entendimento das mudanças nas práticas de contabilidade gerencial nas organizações, tomando por base a teoria do ciclo de vida. Ressalta-se que, diferentemente do estudo de Correia et al. (2011) e de Valeriano (2012), que estudaram, respectivamente, empresas baianas e pequenas e médias empresas brasileiras, a amostra do presente estudo compreende empresas com ações negociadas na bolsa de valores, sendo que a estratégia de identificação dos artefatos se pauta na análise dos relatórios de administração divulgados por tais empresas. Essa estratégia de análise elimina o viés de resposta presente no questionário, em que a empresa pode indicar a utilização de um artefato sem que de fato isso ocorra.

Além disso, o modelo para a mensuração dos estágios de ciclo de vida utilizado, desenvolvido por Anthony e Ramesh (1992), normalmente é associado a características financeiras das empresas, como, por exemplo, a estrutura de capital (Salehi, Rostami e Salmanian, 2013) e a qualidade da informação contábil (Lima, Carvalho, Paulo e Girão, 2015), no entanto não foram identificados estudos que relacionassem esse modelo a controles gerenciais. O modelo de Anthony e Ramesh (1992) difere daqueles empregados nos estudos de Correia et al. (2011) e Valeriano (2012), pois, ao invés de identificar os estágios por meio de dados primários, leva em consideração características contábeis, como o crescimento das vendas, o percentual de investimentos e o payout de dividendos, o que pode ser positivo, já que elimina a subjetividade das repostas coletadas em questionários.

Como limitações ao modelo, Anthony e Ramesh (1992) destacam que a qualidade das informações contábeis empregadas e a influência de fatores macroeconómicos podem influenciar a correta mensuração do estágio do ciclo de vida. Desse modo, optou-se pela análise do ano de 2014, visto que as normas internacionais de contabilidade já estão consolidadas no ambiente brasileiro, o que ocasiona pouco impacto nas informações contábeis. Além disso, o ano de 2014 apresentou crescimento moderado da economia, o que pode amenizar o reflexo das variáveis macroeconômicas sobre o modelo, em oposição a um ano com retração ou expansão muito acentuada da economia.

Escolheu-se um setor específico, pois, para avaliar os estágios do ciclo de vida da empresa, é necessário que esta esteja inserida no mesmo contexto econômico, como afirmam Beaver, Eger, Ryan e Wolfson (1989), Anthony e Ramesh (1992), Black (1998) e Park e Chen (2006) De acordo com esses autores, as características financeiras determinantes para a classificação desses estágios são significativas se as empresas pertencerem ao mesmo setor. Assim, optou-se pelo setor de consumo cíclico, pois este é o setor que apresenta maior representatividade na economia brasileira, além de possuir a maior quantidade de empresas listadas na bolsa de valores (B3).

Ressalta-se que diversos outros fatores contingenciais, como origem do capital, incerteza ambiental percebida, nível de intensidade da concorrência e posicionamento estratégico podem influenciar os artefatos de contabilidade gerencial que são adotados pela organização; entretanto, neste estudo, optou-se por enfocar o estágio do ciclo de vida das organizações de um setor específico da bolsa de valores brasileira.

Assim, espera-se contribuir para o entendimento da utilização dos artefatos gerenciais na perspectiva do ciclo de vida organizacional, uma vez que as pesquisas sobre instrumentos da contabilidade gerencial e ciclo de vida organizacional em ambiente brasileiro são realizadas, na maioria das vezes, com pequenas empresas (Correia et al., 2011; Valeriano, 2012), com dados provenientes de survey (Correia et al., 2011; Valeriano, 2012) ou estudos de caso (Frohlich et al., 2007; Necyk e Frezatti, 2010; Paulo e Cintra, 2018). A abordagem deste estudo pode permitir insights a respeito da identificação do ciclo de vida a partir de variáveis contábeis e sua relação com os artefatos gerenciais empregados pelas organizações.

Referencial teórico

Ciclo de vida organizacional

As organizações aparentam possuir uma vida semelhante à dos seres vivos (Lester e Parnell, 2005), uma vez que elas "[...] nascem, têm infância e adolescência, atingem a maioridade, envelhecem e morrem" (Marques, 1994, p. 20). E, por apresentarem tal característica, os pesquisadores vêm sugerindo que o comportamento e desenvolvimento das empresas sigam modelos de ciclo de vida organizacional (Quinn e Cameron, 1983).

Segundo Smith e Miner (1983), alguns pesquisadores argumentam que o ciclo de vida organizacional se refere à mudança da organização de um estágio para o outro, no qual os sistemas gerenciais são mais rigorosos. Para Miller e Friesen (1984), não existe uma sequência predeterminada e irreversível para a mudança de um estágio do ciclo para o outro, diferentemente do entendimento de Cameron e Whetten (1983), que consideraram que as empresas alteravam seus estágios por meio de uma sequência predeterminada.

A quantidade de estágios do ciclo de vida organizacional depende do modelo utilizado; alguns modelos apresentam um número maior de estágios, enquanto outros um número menor, sendo que, geralmente, a quantidade de estágios varia de três a dez. A diferença consiste em que os modelos com maior número de estágios dividem o ciclo de vida em estágios específicos, enquanto os modelos menores tendem a condensá-los...

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