An - Vol. 37 Núm. 160, Julio 2021 - Estudios Gerenciales - Libros y Revistas - VLEX 876164359

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AutorDe Oliveira Freitas, Maria Rafaela
CargoArtigo de pesquisa
  1. Introdução

    Tem-se observado relevante aumento da divulgação de relatórios de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) no mundo, o que sinaliza possível interesse das empresas em relatar aos stakeholders tais ações (Crisóstomo, Prudèncio, e Forte, 2017), motivadas por busca de legitimidade, melhor reputação e visibilidade perante a sociedade. Além disso, também há crescente busca por ferramentas de mensuração de RSC que incorporam demandas da empresa e de stakeholders (Scalet e Kelly, 2010).

    A despeito dessa crescente busca, é documentada na literatura a dificuldade de mensuração do desempenho de RSC da empresa, em virtude da ausència de forma padronizada de mensuração, dado seu caráter discricionário, aliada ainda à complexidade do próprio construto de RSC. No entanto, tem emergido uma variedade de metodologias de mensuração que tentam capturar o engajamento da empresa em RSC, o que inclui as metodologias aplicadas à diversidade de ratings e rankings que avaliam externamente a empresa em termos de RSC (Delmas e Blass, 2010).

    Destaca-se que essa preocupação em mensurar externamente o desempenho de RSC da empresa através de ratings e rankings deu-se sobretudo pela demanda crescente de investidores socialmente responsáveis em torno do compromisso da empresa com RSC (Statman, Thorley, e Vorkink, 2006). Essa crescente procura por Investimentos Socialmente Responsáveis (ISR) pode ser justificada pelo fato de que o bom desempenho socioambiental da empresa pode estar associado com melhor desempenho financeiro, em que a empresa tanto pode estabelecer boa reputação, como organização responsável e legítima perante a sociedade, quanto fortalecer relações com ampla gama de stakeholders (Delmas, Etzion, e Nairn-Birch, 2013).

    Nesse sentido, é sob o contexto de demanda por mensuração da RSC que entram em cena as agèncias de rating, organizações responsáveis por avaliar externamente corporações de acordo com um padrão de desempenho social e ambiental através da proposição de indicadores de desempenho não financeiro da empresa (Delmas et al., 2013). Tais indicadores mostram-se importantes tanto para as organizações, por sinalizarem ao mercado a legitimidade das ações de RSC da empresa, conforme preconiza a Teoria da Legitimidade (Deegan, 2002; Dowling e Pfeffer, 1975), quanto para seus stakeholders, que utilizam indicadores de RSC como parâmetro para escolhas e tomadas de decisão relacionadas a questões de RSC enfrentadas pela empresa, segundo a Abordagem Stakeholder (Freeman, 1994).

    No contexto da empresa brasileira, essa crescente demanda por mensuração do engajamento da empresa em RSC também tem ganhado destaque. No mercado de ações, atendendo à demanda de investidores socialmente responsáveis, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) tem procurado se estabelecer como benchmark na avaliação de RSC das empresas brasileiras, ao selecionar as que apresentam melhor classificação em termos de engajamento com RSC (Crisóstomo e Oliveira, 2016; Orsato, Garcia, Mendes-Da-Silva, Simonetti, e Monzoni, 2015).

    Tem sido pertinente também a avaliação externa cada vez mais expressiva da empresa brasileira sob critérios de RSC por agèncias internacionais de ratings especializadas. Entre estas, destacam-se: Monitor Empresarial de Reputação Corporativa (MERCO); agència norte-americana CSRHub; e Thomson Reuters. O MERCO tem divulgado sobre a empresa brasileira os índices Merco Empresas de Reputação Corporativa (MERCO RP) e Merco Responsabilidade e Governo Corporativo (MERCO RS/GC) que abrangem, respectivamente, empresas com melhor reputação e mais responsáveis. O CSRHub através de seu rating de RSC avalia empresas a partir de informações relacionadas a critérios de sustentabilidade e RSC obtidas de diversas fontes, enquanto a Thomson Reuters através do rating Thomson Reuters environmental, social and governance (ESG) Scores (TR ESG Scores) propõe-se a mensurar de forma transparente e objetiva o desempenho em RSC, considerando o comprometimento e eficácia Ambiental, Social e de Governança (ASG) da empresa.

    A escolha de tais índices de RSC como objeto deste estudo justifica-se, primeiramente, pela crescente aceitação que estes tèm conquistado no mercado de ISR como ferramentas para atender à demanda informacional dos diversos stakeholders acerca do desempenho de RSC da empresa (Orsato et al., 2015). Além disso, em virtude desta sólida presença no mercado, esses índices também tèm sido cada vez mais demandados como métricas de RSC no ambiente acadèmico (Bouvain, Baumann, e Lundmark, 2013). Vale mencionar que tais índices permitem maior facilidade de acesso e transparència de dados disponíveis sobre empresas, além de oferecerem boa cobertura de empresas em distintos mercados, incluindo o Brasil.

    A despeito da existència de uma diversidade de ratings que avaliam empresas segundo critérios de responsabilidade social e ambiental (Scalet e Kelly, 2010) e em virtude dos processos subjetivos em torno do desenvolvimento de ratings de RSC (Sharfman, 1996), alguns estudos tèm questionado a validade e consistència de metodologias adotadas por agèncias de ratings de RSC no processo de avaliação da empresa, a fim de identificar similaridades e diferenças entre distintas metodologias quanto a noções e critérios do construto de RSC (Bouten, Cho, Michelon, e Roberts, 2017; Delmas et al., 2013; Hedesström, Lundqvist, e Biel, 2011).

    Destaca-se que este processo de verificação de convergència entre índices de RSC deve atender a duas condições prévias, conforme indica a literatura (Chatterji, Durand, Levine, e Touboul, 2016; Espeland e Sauder, 2007): teorização e comensurabilidade. Enquanto a teorização diz respeito à concordância sobre uma definição comum para RSC, a comensurabilidade refere-se ao grau com que diferentes avaliadores mensuram o construto de RSC.

    No contexto de economias desenvolvidas, a pesquisa sobre a consistència da mensuração externa de RSC por diferentes índices aponta resultados ainda não conclusivos sobre sua convergència (Bouten et al., 2017; Chatterji et al., 2016; Delmas et al., 2013). Por outro lado, no contexto de mercados emergentes, que é o caso do Brasil, ainda existe escassez de estudos que abordam a convergència de índices de RSC que avaliam, especificamente, empresas brasileiras. Nesse sentido, esta pesquisa pode prover nova contribuição que se soma à pesquisa existente e suscita a realização de trabalhos futuros sobre índices de RSC, notadamente em mercados emergentes.

    Dessa forma, este estudo pretende responder a seguinte questão de pesquisa: Quão convergentes são os índices de RSC na avaliação da empresa brasileira? Em resposta ao problema de pesquisa, o objetivo deste estudo é investigar a propensão à convergència de avaliação da empresa brasileira entre índices de RSC através de análise qualitativa comparativa de suas metodologias e quantitativa de suas pontuações. Para tanto, utilizou-se uma amostra de empresas brasileiras avaliadas em alguns índices de RSC no período 2013-2017: ISE, MERCO RP, MERCO RS/GC, CSRHub e TR ESG Scores.

    A análise qualitativa, que comparou as metodologias dos índices, permitiu constatar que, a despeito de uma diversidade conceitual em torno do construto de RSC, além de especificidades atreladas a cada índice, à exceção do ranking MERCO RP, os índices são unânimes em considerar elementos relacionados ao meio ambiente, às questões sociais e de governança, como dimensões importantes na teorização da RSC, o que corrobora a existència de convergència entre distintos índices de RSC.

    De modo similar, os achados através da análise quantitativa mostram que os índices de RSC que avaliam empresas brasileiras estão positivamente correlacionados, o que representa importante indicativo de congruència na avaliação do desempenho em RSC da empresa brasileira entre tais índices que, dessa forma, contribuem para legitimar as ações da empresa frente a seus stakeholders. Também é importante mencionar que há elevada proporção de empresas simultaneamente avaliadas por distintos índices.

    Este artigo está estruturado em cinco secções, incluindo esta introdução. A seguir, apresenta-se a revisão da literatura, a qual contempla aspectos relacionados à avaliação da RSC por distintos índices e à convergència de avaliação entre eles. Na terceira seção, delineiam-se os procedimentos metodológicos, enquanto na quarta seção, apresentam-se os resultados da pesquisa. E, por fim, na quinta seção, as considerações finais.

  2. Fundamentação teórica e hipótese de pesquisa

    2.1 Avaliação externa do desempenho de responsabilidade social corporativa

    Segundo a Teoria Stakeholder (Freeman, 1994), dado que os principais stakeholders externos da empresa tendem a recompensar ou penalizar as corporações com base em suas atividades e impactos relativos à RSC, que podem ameaçar a continuidade da empresa, os gestores tèm dedicado mais atenção às atividades de RSC, o que inclui esforços para mensurar e divulgar RSC (Cucek, Klemes, e Kravanja, 2012).

    A despeito dos esforços empreendidos pelas empresas para relatar seu compromisso com RSC, é ampla a demanda informacional dos diversos stakeholders. Em virtude do risco de comportamento oportunista da empresa, a confiabilidade do que é divulgado pela própria empresa relativamente às suas ações em RSC é, muitas vezes, difícil de verificar, por não terem os stakeholders acesso direto às informações relevantes (Chatterji e Levine, 2006). É nesse contexto de atendimento a uma demanda informacional mais abrangente sobre RSC da empresa pelos diversos stakeholders que surgem as propostas de métricas de avaliação externa da RSC, as quais vão desde índices de mercado, ratings e rankings de RSC, até avaliações de Organizações Não Governamentais (ONGs) (Windolph, 2011).

    Tem emergido um número crescente de índices, ratings e rankings internacionais que classificam empresas com base em seu desempenho em RSC e sustentabilidade (Antolín-López, Delgado-Ceballos, e Montiel, 2016). Dada a grande...

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