O Acordo Mercosul-União Europeia e seus impactos na América do Sul em meio à crise do regionalismo
| Autor | Karina Lilia Pasquariello Mariano - Cairo Gabriel Borges Junqueira |
| Páginas | 109-132 |
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Capítulo 4
O Acordo Mercosul-União Europeia e seus
impactos na América do Sul em meio à crise
do regionalismo
Karina Lilia Pasquariello Mariano
Cairo Gabriel Borges Junqueira
Como citar este capítulo? / ¿Cómo citar este capítulo?
Mariano, K. L. P. e Junqueira, C. G. B. (2022). O Acordo Mercosul-União Euro-
peia e seus impactos na América do Sul em meio à crise do regionalismo. En A. J.
Hurtado Briceño y R. J. Mirabelli (Eds.), Mercosur en el nuevo escenario latinoame-
ricano (vol. 11, pp. 109-132). Ediciones Universidad Cooperativa de Colombia.
https://doi.org/10.16925/9789587603750
Introdução
No nal de 2018, após os resultados eleitorais do pleito presiden-
cial no Brasil, o então futuro ministro da economia Paulo Gue-
des disse em uma entrevista: “O Mercosul não é uma prioridade. Não, não
é prioridade. Tá certo? É isso que você quer ouvir. Queria ouvir isso?” (G1,
2018). Passado cerca de um ano e meio, na primeira cúpula virtual do Mer-
cado Comum do Sul (Mercosul), ocorrida em julho de 2020, em meio à
pandemia, o presidente Jair Bolsonaro armou:
Os próximos meses serão de g randes desaos para todos nós. O
maior deles, que se apresenta desde logo, é conciliar a proteção da
saúde das pessoas, com o imperativo de recuperar a economia. Ten
ho
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MERCOSUR EN EL NUEVO ESCENARIO LATINOAMERICANO
certeza que o Mercosul é parte das soluções que estamos construindo.
(El País, 2020)
Qual possível variável explica essa mudança de tom do governo brasileiro
com relação ao Mercosul e o que ocorreu durante esse período que gerou
uma reviravolta no seu discurso? Uma da s principais razões que pode ser
apontada é a assinatura do Acordo de Associação entre Mercosul e União
Europeia (Acordo Mercosul-ue) em junho de 2019 durante a Cúpula do
G20 no Japão. À época, ocorreu grande celebração por parte dos governos
envolvidos nessa dinâmica nos dois continentes e uma intensa divu lgação
na m ídia a respeito do que viria a ser o ma ior e mais abrangente acordo
birregional e stabelecido na história mundial, caracterizando um suposto
ponto nal ao movimento iniciado ainda em 1995, com a assinatura do
Acordo-Quadro de Cooperação Inter-regional.
Entretanto, passada essa euforia, as relações entre os governos de ambos
os blocos regionais não foram dinamizadas. Pelo contrário, houve aumento
do ceticismo e de ressalvas trocadas no interior dos organismos regionais e
entre os dois continentes. Como forma de averiguar essas relações, este capí-
tulo analisa o contexto desfavorável para a raticação do Acordo, buscando
elencar signicados, atores e impactos envolvidos e advindos desse processo,
considerando prioritariamente a participação dos países do Mercosul.
Atualmente, o regionalismo su l-americano passa por uma nova onda de
crise, em que as instabilidades políticas dos países da região acabam ree-
tindo nas próprias dinâmicas regionais, o que vai muito além do momento
em torno da pandemia do novo coronavírus e inclusive precede a ele. A s
crescentes polarizações políticas dos países, os casos de corrupção estrutu-
rais, o elevado índice de desemprego atrelado ao avanço da in formalidade,
entre outros exemplos, são fu ndamentais para se entender tanto esse pro-
cesso endógeno da região quanto as reiteradas diculdades de se estabelecer
maiores contatos e diálogos com a parte europeia.
Por ora, não há previsão ocial de quando o Acordo Mercosul-ue será
aprovado integralmente, muito menos ainda sobre as reais possibilidades de
sua plena implementação. Nessa seara de incerteza, cabe questionar como
o Acordo impactará o arranjo institucional do Mercosul. Tal pergunta se
justica em virtude das diferenças decisórias e institucionais existentes nos
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